sábado, 30 de junho de 2012

Do desbravamento à emancipação

O ROÇADO QUE CRESCEU E VIROU CIDADE 
Percurso entre Ibicaraí e Itabuna pela BR 415 (Imagem Google Mapas)
O território onde hoje está localizada a cidade de Ibicaraí começou a ser desbravado no início do século passado, quando ao abrir uma clareira na parte central da Mata Atlântica, especificamente 40 km a oeste da cidade de Itabuna, o desbravador Calisto Roxo deu início ao plantio das primeiras sementes de café na região. Não se sabe ao certo se o Convênio de Taubaté teve alguma influência na escolha do produto. No entanto, Calisto Roxo, após alguns anos labutando com a monocultura cafeeira, decidiu desfazer-se das terras, que foi arrematada pelo valor de Cr$ 400,00 (quatrocentos cruzeiros) pelo agricultor Manoel Marques dos Santos Primo, lá pelo ano de 1916.

Vários motivos podem ter sido influenciados para que Calisto Roxo se desfizesse de suas terras, dentre estes motivos estão os frequentes relatos das inconvenientes visitas de indígenas que circulavam pela região, Adonias Filho em seu livro SUL DA BAHIA: CHÃO DE CACAU escreve que “Manoel Marques e Calisto Roxo lutam em Ibicaraí, às margens do Rio Salgado, um dos afluentes do Cachoeira, para pacificar índios, certamente pataxós.”

Não se sabe exatamente se a presença constante dos índios foi ou não motivo para a concretização do negócio entre Calisto Roxo e Manoel Marques, no entanto, ao adquirir as terras de Calisto, Manoel passou a construir uma nova história na região e, sem querer perder tempo, Manoel Marques transferiu-se com sua família para o roçado e passou a cultiva a cultura cacaueira. O fato acarretou na imigração de diversos moradores para a região, no qual, Manoel e sua família foram acolhedores e distribuíram sesmaria.

As poucas famílias que chegavam anualmente foram se aglomerando e não demorou muito para que o roçado logo se transformasse num pequeno povoado. No local onde hoje está situada a Praça Olintho Matos, foi construído um barracão, onde homens que desbravavam a Mata, para introduzir o plantio de diversas culturas, se reuniam e colocavam as conversas em dias. Muitos deles aproveitavam para negociar o que produziam em suas terras. Devido as frequentes palestras que os homens proferiam quase que diariamente no Barracão, o povoado foi batizado com o nome de PALESTRA.

O fato é que Palestra crescia pujantemente e a população que se estabelecia desordenadamente no local, logo necessitou de um especialista para a demarcação das terras. No ano de 1920, o Sr. Saturnino Marques, pai de Manoel Marques, trouxe o engenheiro Aurélio Caudas para realizar a demarcação das terras e, ao deparar-se com o território fértil, o engenheiro afirmou que ali era uma “Terra Santa”. O termo foi recebido pelos moradores do povoado como elogio, que passou a chamar o local de PALESTINA, numa referência à “Terra Sagrada” do povo judeu.

Cel. Francisco Assis Araújo
grande empreendedor de Palestina
Neste momento surge a figura do comerciante e fazendeiro Francisco Assis Araújo, que se destacou entre os moradores do vilarejo. Ele foi responsável pelo primeiro cinema de Palestina, numa época de muitos obstáculos. Waldyr Montenegro diz que “Quando Palestina já contava com 3 (três) mil habitantes, Assis Araújo montou um cinema com a maior dificuldade para transportar todo material pesado em ombros de homens fortes, que percorreram 48 km entre Itabuna e Palestina, em estrada de pedestre de má qualidade”. Além do cinema Assis Araújo montou a primeira escola e trouxe as primeiras professoras. Ele foi premiado pela prefeitura de Itabuna com o valor de Cr$ 5.000,00 (cinco mil cruzeiros) após ter realizado uma grande venda de fumo e algodão de alta qualidade para o exterior, além ter sido considerado um dos maiores produtores de cacau da região. Por seu intermédio foi construída a primeira igreja, inaugurada no ano de 1928, numa missa realizada pelo Mons. Moisés Gonçalves Colto. Este fato, no entanto, acarretou a sua decadência, quando, ao se desentender com o pároco João do Prado, buscou apoio da população, e este lhe foi negado. Decepcionado, Assis Araújo se desfez de tudo que havia construído em Palestina e retornou a sua terra natal no recôncavo baiano.

No ano de 1937, Ibicaraí deixou de ser um simples povoado tornando-se distrito de Itabuna. Neste período Palestina/Ibicaraí teve 12 (doze) administradores sendo eles: José tito de Lima, Obner Alves Assis, Bianor Marques Gonçalves de Lima, Henrique Pimentel Sampaio, João Ferreira Araújo, Justino Marques, Tescon B. Miranda, Manoel Caxingó, Porfírio Tavares Sousa, Raimundo Ribeiro, Manoel Carvalho de Batista e Almir Barbosa Menezes. Sendo que, Justino Marques e Porfírio Tavares foram administradores em duas oportunidade.

No ano de 1943, por força do decreto-lei de n° 141, Palestina passou a se chamar IBICARAÍ, que na língua Tupi quer dizer: Ibi = Terra - Karaú = Sagrado. A essa altura, a considerada alta sociedade do distrito, já se mobilizava para lutar pela emancipação, fato que só foi concretizado no dia 22 de outubro de 1952, através da Lei Estadual de n° 491, assinada pelo governador Regis Pacheco, sob a presença da Comissão Emancipacionista liderada por Dagmar Pinto e demais políticos de Ibicaraí, além dos políticos de Floresta Azul, Santa Cruz da Vitória, Firmino Alves, Itaiá e Itororó, que fizeram acordos com os políticos ibicaraienses, para emanciparem suas localidades nos anos seguintes.

O governador Régis Pacheco e a comissão emancipacionista
De pé e com a mão no bolso, Henrique Sampaio se tornaria o primeiro prefeito de Ibicaraí
O fato é que o prefeito de Itabuna se recusou a perder todo aquele território e impetrou recurso no intuito de invalidar o Decreto de Regis Pacheco. Entretanto, em dezembro de 1954, o governo federal autorizou a realização das eleições, que acabou sendo disputada entre Dr. Henrique Sampaio, Amir Menezes e Manoel Batista. Dr. Henrique acabou se tornando o primeiro prefeito do Município de Ibicaraí.

Nos primeiros 40 (quarenta) anos após a emancipação, o município de Ibicaraí passou por diversas fazes de crescimento. No entanto, entre o final do século passado, para o início deste século, a cidade que crescia vigorosamente acabou entrando em colapso, tanto no setor agrário como no industrial. A população que em 1979, segundo o IBGE, atingiu a marca de 33.110 habitantes, no senso de 2010 não passou dos 24.272 tornando-se uma agravante para o município.

Durante este tempo, o município teve quinze eleições para prefeito, no qual, Henrique Oliveira aparece em destaque, por ter administrado a cidade em quatro oportunidades. (confira a lista de prefeitos de Ibicaraí).

Na atualidade há um clima instável, ou seja, há uma incógnita se a situação irá melhorar ou não. No senso de 2010, por exemplo, Ibicaraí atingiu um dos maiores índices de desigualdade do estado, um fato agravante para quem precisa crescer. O prefeito Lenildo Santana, que tentará a reeleição este ano, ainda não divulgou nenhuma medida para mudar a situação. Porém, planos do governo federal e do estado como a abertura de uma agência do INSS e o asfaltamento e melhoramento do saneamento básico de algumas ruas da cidade, tem demonstrado que de alguma forma Ibicaraí esta mudando. 

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