quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Professora Waldir Pinto Montenegro Matos


A história de uma educadora idealista, determinada e realizadora
Apesar de ter dedicado toda a sua vida à educação do município de Ibicaraí, a professora Waldir Pinto Montenegro Matos, ou apenas professora Waldir Montenegro (como era mais conhecida), nasceu num sítio, no Bairro Lameirão, da cidade de Caetité, no dia 28 de março de 1917. Em meio aos dois irmãos e aos pais Francisco Pinto Montenegro e Rita Morais Montenegro, a professora teve uma vida ativa e cheia de alegria. Nos seus primeiros anos de vida, conheceu as letras e a tabuada, com o auxílio da sua mãe, D. Rita.

Em 1931, passou a estudar nas escolas anexas da cidade de Caetité, a Escola Normal - que na época era famosa em todo o Brasil por formar professores de magistério de ensino primário. Em 1936 ela concluiu o curso e um ano depois foi lecionar na Vila de Santa Rosa de Condeúba, dando assim, início a sua vida pedagógica, como professora do município. 

Em 1938, participou de um concurso do estado para professores leigos e ficou entre as cinco melhores. Nomeada no dia 06 de maio do mesmo ano, a professora Waldir foi lecionar na Escola Estadual de São João do Alípio, no município de Condeúba. Lá, ela conheceu o também jovem docente Oscar de Queiroz, que no dia 27 de fevereiro de 1940 tornou-se o seu esposo.   Pouco mais de um ano após formalizarem o matrimônio, a professora Waldir deu a luz ao seu primogênito na cidade de Serra Dourada e, em homenagem ao a  mor do casal, batizaram-no com o nome de Osdyr. Um anagrama de Oscar e Waldir.

Forte e sempre determinada, a professora Waldir tirava o tempo livre para se dedicar a algumas costuras e bordados. O objetivo era faturar um capital extra, vendendo as peças de roupas nas fazendas da região, pois só os ordenados como professora eram insuficientes. Durante o período noturno, ela dava aula particular às pessoas de mais idade e ficou marcada na época com a criação da alfabetização de adultos.

No ano de 1944, a professora Waldir foi transferida para a cidade de Livramento de Brumado, onde concebeu a primeira filha, que faleceu logo após o nascimento. Porém, foi abençoada pouco tempo depois, com os nascimentos consecutivos de mais três filhos: Walmar, Magnólia e Osdymar.   Em Livramento ela foi reajustada no cargo de Professora do ensino primário do interior, Classe "B". No ano de 1947 foi designada para reger Curso Supletivo de Educação de adultos. Em 1949 fez parte da Sociedade Cooperativa de Educação e Cultura e no ano de 1951 foi nomeada Diretora F G 1 das Escolas Lelis Piedade.

No dia 13 de abril de 1954, sendo transferida de Livramento de Brumado, a professora Waldir mudou-se para a cidade de Ibicaraí, a princípio ela chegou desacompanhada e ficou alojada na casa da Profª Editi Costa – amiga dos tempos em que moravam em Condeúba. Depois, se uniu ao esposo e filhos.  

Em Ibicaraí a professora havia chegado para lecionar aulas de geografia e história geral e do Brasil, no Colégio Ginasial 14 de Agosto, porém, devido à escassez de professores, a docente passou a lecionar também aulas de Educação Física, Educação Artística e Prendas Domésticas. Só que ela também teve que enfrentar inúmeras barreiras: uma delas foi no setor administrativo da escola, outro no comportamento chauvinista masculino da época. Pois quando a oligarquia vigente deparou-se com uma mulher de forte personalidade e determinada a lutar pelos seus ideais, eles passaram a vê-la com maus olhos e sem nenhum motivo a professora foi dispensada do cargo.  

Waldir, no entanto, não desanimou, pelo contrário, buscou forças políticas e uniu-se ao professor Oscar de Queiros (seu esposo) e ao amigo José Guedes. Juntos eles criaram a Cooperativa de Educação e Cultura de Ibicaraí, formalizaram um projeto para o estabelecimento de uma nova escola ginasial na cidade e enviaram os documentos ao Departamento do Ensino Comercial do Ministério da Educação e Cultura. Após aproximadamente um ano, decorridos de alguns desacertos influenciados pela oposição, a Escola Comercial Noturna em fim, pode realizar os exames de admissão, concretizando a vitória da professora, que não parou por aí. 

Com ajuda do esposo e alguns amigos como: José Guedes que abraçou a luta da professora e João Batista de Assis, que doou o terreno para a construção do prédio, que anos mais tarde veio a se tornar Academia de Educação Montenegro e, em seguida, Faculdades de Educação Montenegro, a história da professora Waldir passou a ser confundida com a história da Academia Montenegro. 

Num depoimento, a professora Yolanda Guedes descreveu a luta e os feitos da professora Waldir diante dos desafios: 
Continuou a lutar em prol da educação sempre determinada, idealista e realizadora de grandes ideais. Não se deixava abater pelo cansaço, problemas e obstáculos. Enfrentou grandes desafios. Foi forte! Pregou moral, respeito, conhecimento e, sobretudo disciplina. Tornou-se conhecida em toda a região e porque não dizer na Bahia por seus grandes feitos. Efetuou os mais lindos desfiles para homenagear o colégio, Ibicaraí, a Bahia e o Brasil. Era uma mulher de filera, de honestidade e de palavra.
 Ao completar o quadragenário, a professora Waldir teve o seu último filho, este nasceu na cidade de Ibicaraí e foi batizado com o nome da professora. Porém, apesar dos pelejos da vida materna, um ano depois, ela foi nomeada para função de Diretora das Escolas da Sede do Município
No ano de 1959, a professora Waldir se candidatou para uma cadeira no legislativo municipal e ficou marcada na história política do município ao se tornar a primeira mulher a exercer o cargo de vereadora, contrariando completamente aqueles que se opuseram a ajudá-la.

No entanto, ela deixou um legado na educação do município ao educar mais de 31 mil alunos. Sempre de forma organizada, exigente e tradicional, ou seja, ela utilizava os castigos como forma de reprimir os alunos mais desobedientes.  Este método pedagógico intimidou muitos alunos que passaram a temê-la pela sua forma de agir. Apesar da rigidez na forma de exigir disciplina dos seus alunos, ela se demonstrava uma pessoa atenciosa e de bons sentimentos, como revela a aluna e amiga Nilza Gama, em seu depoimento: 
 Na minha trajetória estudantil a conheci melhor como mestra e como pessoa, muito me incentivou nos meus cursos de magistério e pedagogia, eu a via uma mulher gigante de coração bondoso. Ela tinha um sonho, este não foi realizado. Disse-me certa vez que um dos grandes sonhos era encontrar um bebê na sua porta, muitas vezes na madrugada levantava para olhar no canteiro da sua casa se não estaria ali uma criança dentro de um cestinho, esperando para ela recolher.
Na Academia de Educação Montenegro ela marcou a época com os belos desfiles em comemoração às datas cívicas e religiosas. E na prática do esporte, onde levava seus alunos para competir em diversas cidades da região. 

Professora Waldir ao lado das bandeiras dos estados do Brasil
Aos 72 (setenta e dois) anos de idade, a professora Waldir fez mais um grande empreendimento na educação, que se tornou importante não apenas para o município como para todo estado da Bahia, quando conseguiu através de Portarias Ministeriais, o direito de administrar aulas do curso superior de Educação Física (licenciatura plena), na sua instituição de ensino. Na época ela se tornou a fundadora da primeira Faculdade de Educação Física da Bahia. Seis meses depois trouxe o curso de Pedagogia (licenciatura plena), com habilitações em magistério das matérias pedagógicas, Administração Escolar e Orientação Educacional, criando assim a Faculdade de Educação Montenegro. Dez anos depois, implantou mais dois cursos superiores na sua instituição de ensino: Turismo e Secretariado Executivo bilíngue ambos bacharelado. 

Nos seus últimos anos de vida viu-se obrigada a entregar a administração do seu patrimônio nas mãos de terceiros. Situação em que acarretou inúmeros desacertos administrativos e uma dívida que a levou a se desfazer do seu grande patrimônio (a Faculdade). 

Ainda sobre a sua forma pedagógica, muitos alunos diziam que “a professora Waldir era tão exigente que até mesmo no dia do seu velório as aulas decorreriam como nos dias normais”. Mas quis o destino que na mesma semana em que se comemorava o dia dos professores e justamente no dia (11/10/2011) em que se comemora o “Dia de Nossa Senhora Aparecida” (padroeira das Faculdades Montenegro e santa devota da professora Waldir), ela se despediu deste mundo com pompas de uma grande mulher como descreve a professora Yolanda Guedes em seu depoimento.

Em seu sepultamento recebeu homenagens e seu féretro foi muito solene. As bandeiras tremulavam em sinal de respeito e gratidão pela mulher educadora que deixou marcas indeléveis na educação da coletividade.
A professora Waldir faleceu no dia 10 de outubro de 2011 e foi sepultada no dia 11, aos 94 anos de idade.

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